Afrodite
O sol de inverno entrou cedo no meu quarto, envolvendo toda a minha cama, e uma carta. Ávido de ternura-amor, beijei cada palavra, cada beijo-não-beijado, cada gozo-não-gozado, cada som de amor-amar. Sonho de amor na solidão da cama-sem-calor.
Na cama-a-carta, ou carta-na-cama.
Olhos amantes deliciam-se
com letras namoradas.
Seria uma miragem?
Não! Não era...
Era Afrodite "com seu belo corpo cheio de desejos,
com teus perfumes com cheiro de amor.
Arrancaram-te dos altares
e te fizeram profana;
Mas... tuas bem-ditas palavras de amor",
elevou-me ao alto da mais bela montanha.
Viajor de trem... atento às curvas do trilho
atento ao som de seus apitos, breves paradas,
ora-para-descer, ora-para-subir,
nesta ou naquela aldeia.
Emocionei-me com vírgulas, tive medo dos pontos.
Nas exclamações, mudo ficou o coração.
Desci na parada seguinte
com medo das reticências.
"Vem agora ao vento,
da aldeia que não está longe,
um lamentoso toque de sinos:
alguém morreu – sei quem foi,
mas de que serve dizê-lo?
Muito alto, duas garças brancas
(ou talvez não seja garças, não importa),
desenham um bailado sem princípio nem fim:
"vieram inscrever-se no meu tempo,
irão depois continuar o seu, sem mim".
Roberto Gonçalves
Na cama-a-carta, ou carta-na-cama.
Olhos amantes deliciam-se
com letras namoradas.
Seria uma miragem?
Não! Não era...
Era Afrodite "com seu belo corpo cheio de desejos,
com teus perfumes com cheiro de amor.
Arrancaram-te dos altares
e te fizeram profana;
Mas... tuas bem-ditas palavras de amor",
elevou-me ao alto da mais bela montanha.
Viajor de trem... atento às curvas do trilho
atento ao som de seus apitos, breves paradas,
ora-para-descer, ora-para-subir,
nesta ou naquela aldeia.
Emocionei-me com vírgulas, tive medo dos pontos.
Nas exclamações, mudo ficou o coração.
Desci na parada seguinte
com medo das reticências.
"Vem agora ao vento,
da aldeia que não está longe,
um lamentoso toque de sinos:
alguém morreu – sei quem foi,
mas de que serve dizê-lo?
Muito alto, duas garças brancas
(ou talvez não seja garças, não importa),
desenham um bailado sem princípio nem fim:
"vieram inscrever-se no meu tempo,
irão depois continuar o seu, sem mim".
Roberto Gonçalves