Afrodite
O sol de inverno entrou cedo no meu quarto, envolvendo toda a minha cama, e uma carta. Ávido de ternura-amor, beijei cada palavra, cada beijo-não-beijado, cada gozo-não-gozado, cada som de amor-amar. Sonho de amor na solidão da cama-sem-calor.

Na cama-a-carta, ou carta-na-cama. 
Olhos amantes deliciam-se 
com letras namoradas. 

Seria uma miragem?
Não! Não era...
Era Afrodite "com seu belo corpo cheio de desejos, 
com teus perfumes com cheiro de amor. 
Arrancaram-te dos altares 
e te fizeram profana;
Mas... tuas bem-ditas palavras de amor",
elevou-me ao alto da mais bela montanha. 

Viajor de trem... atento às curvas do trilho
atento ao som de seus apitos, breves paradas,
ora-para-descer, ora-para-subir, 
nesta ou naquela aldeia. 

Emocionei-me com vírgulas, tive medo dos pontos. 
Nas exclamações, mudo ficou o coração.
Desci na parada seguinte 
com medo das reticências.

"Vem agora ao vento, 
da aldeia que não está longe, 
um lamentoso toque de sinos:
alguém morreu – sei quem foi, 
mas de que serve dizê-lo?

Muito alto, duas garças brancas
(ou talvez não seja garças, não importa),
desenham um bailado sem princípio nem fim:
"vieram inscrever-se no meu tempo, 
irão depois continuar o seu, sem mim".

                        Roberto Gonçalves

 
RG
Enviado por RG em 09/09/2013
Reeditado em 07/02/2014
Código do texto: T4474169
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