Lizardices na Laje

Ainda não almoçamos e as crianças já tomaram sorvete. Não importa. É sábado. Somos todos uns Lizardos. Conversamos com o som nas alturas enquanto a cerveja gela no isopor e o fogo para o churrasco é aceso.
Sandra Regina trepa na amoreira acompanhada dos olhares atentos de Barbara, Emily e Yasmin. Eu e Ana estamos cá em cima da laje, para onde trouxemos, com a carne que Luska temperou, uma garrafa de café, item indispensável em qualquer reunião lizardiana. Antonio Perez se encarrega da churrasqueira e eu, como sempre o mais ocupado dentre todos, observo tudo e tomo notas em meu fabuloso caderno de pensamentos para serem guardados para que nunca sejam esquecidos. Caderno de notas número sete. E, claro, tiro fotos. Muitas fotos.
Agora Thiago Lizardo dá um banho refrescante no Bummer, um banho de mangueira, enquanto Marcio Antonio Lizardo disse que embarcava num trem a caminho daqui. Giovanna aparece aqui em cima. Estava lá sempre em seu canto. Gosto muito disso nela e gosto muito dela nisso. Aliás, adoro essas coisas dela nela.
Tento ligar de novo para José Lizardo e dá caixa postal. Um dia eu disse que detestava celulares. Hoje eu só odeio. Tatiane com Tilin e Camila foram ao sítio do pai, passar o fim de semana.
Segue o rock na vitrola e o sol nos promete uma tarde bem quente e talvez uma bela noite. Yasmin dispensa o tablet e brinca com uma velha máquina de escrever. Não, ela não é uma Lizardo, mas bem que podia, nesse meio, ser confundida com um de nós.
De repente, na seleção musical, “Skyline Pidgeon”, de Elton John, dá entrada a uma sequencia de canções do nossos tempos de bailinhos. Essa canção tem uma história que me foi trazida à lembrança por José Lizardo, de uma vez ouvirmos alguém executando as tal canção e parou na primeira parte, quando eu disse que tinha mais letra e o cara disse que ele não sabia o resto.Toque! eu disse, e continuei a cantá-la até o fim. Eu conhecia a letra toda e tinha apenas doze anos.
As tarde avança quente. Sandro Lizardo ainda não veio e Marcio Lizardo ainda não chegou e eu ainda não consegui falar com José Lizardo. Parte da família já desceu da laje. Lá de cima eu olho o casario tão mudado a ocultar-me as lembranças. Sim, aqui foi a minha infância.
O fundo musical muda. Afinal, não seríamos uns Lizardos se não fossemos assim tão Lizardos. E esta é uma família grande o suficiente para comportar todos os gostos, todos mesmo.
A noite já vai cair. Faz frio agora. José Lizardo não ligou, Marcio Lizardo não apareceu e Sandro Lizardo não veio. Mas qualquer pouco de Lizardos é como se fosse todos os Lizardos.
Sempre abre na vida da gente um parêntesis, algo que colocamos entre um momento e outro, para lembrar depois. Há nisso sempre um olhar que nunca esqueço.
A noite agora avança. Rola um karaokê com os sobreviventes da festança. Ana Maria foi ficando e foi embora tarde. Márcio Lizardo apareceu mais tarde com Thais Eliza, para uma visitinha relâmpago e foram ver um show num bar na Vila Madalena. Eu vou entrar no banho. Eu tinha estado ainda ontem um pouco triste sei lá por que e tudo deste dia de hoje me deixou mais feliz do que sempre. Teve o desfile de sete de setembro, onde tentamos registrar a participação de Emily. Renata aproveitou para comemorar o aniversário do Marcos, o dela, não este que vos fala. E alguém que tinha ido embora voltou e está aqui e eu fiquei contente e ainda tento entender o motivo disto.
É sempre assim. Quando a tristeza ameaça me derrubar, eu ando de trem. E sempre venho parar aqui. Lugar de pessoas que eu amo e pelas quais me sinto amado. Lugar onde não preciso pensar em mais nada de que eu precise, a não ser só tudo isto.
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 07/09/2013
Reeditado em 19/03/2021
Código do texto: T4471835
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