Feito serpentes
“Deus não é o ‘deus dos mortos’
Mas, o ‘Deus dos Vivos’
Porque muito serão chamados
E poucos, os escolhidos”
(Livro Sagrado dos cristãos)
Não lembro-me ao certo se era dia ou noite... Sexta ou terça-feira?
Mas, não esqueço-me das palavras de Karloff¹, que deslizavam em meus ouvidos, feito serpentes...
“Em verdade lhe digo, meu padrinho: Tudo o que é belo e resplandecente...
... Do meio-dia p’ra frente, torna-se aterrorizante e envolvente!
E, nas madrugadas insolentes, espectros malevolentes surgem, como um eterno filme em P&B
Arrastam-me e elevam-se; do chão, dirigindo-se para mim, tentando me acometer...
Provocando-me receio de enfrentar a derradeira cerimônia; tentando me ludibriar
Assim como toco minhas visões, sinto-as pelas mãos desvanecerem
Entre os dedos perco-as; o que me resta então, atenuar-me de enfrenta-las?
Diante delas, escolher o momento certo de morrer?
Antes, deixo-lhe outra indagação, meu padrinho, preste muita atenção:
Viveste a vida só, ou fora tragado por alguma grande paixão?
Compadre, se puder dar-me ouvidos inclina-os para mim...
... Volta para ti os olhos da razão; tenha, dos inimigos, compaixão
Guarda-te de julgar o homem e suas ações; seu único companheiro é o tempo
Com ele descobrirá o valor das coisas, e pelos seres ignóbeis construirá admiração?
Antes da desaprovação, só pelo respeito elimine as possibilidades de agressão
À vida; você se penteia todos os dias?
Põe ordem nas gavetas, todavia não arruma o seu coração?
Lembro-me bem do seu enlace; entramos juntos pelos corredores do iluminado salão
Preenchendo toda a igreja, o som do violino... E os padrinhos se sentaram, em silêncio...
E, enquanto preparava-se união, alguns convidados fizeram-nos, com olhares, acepção
¹Boris Karloff (1887 – 1969)