ENCRUZILHADA
Carregava em uma das mãos um ofício, subindo as escadas, a bola de estrume, agora já lá em cima, numa leitura irônica, disse no final a todos os presentes:
- Para tudo! Iremos recolher todo o material.
Perto, entre vários indignados, um resolveu exclamar toda a sua ira:
- Ô rapá! Larga essa porra aí!
Pois bem, de lá pra cá, descemos, isso mesmo, descemos fomos para rua, fomos para a calçada, aqui mesmo, junto aos parceiros, vendo o vai e vem do povo que gira, da galera, da correria e visto lá de cima, a foto que se viu foi a de quase um sorriso. Que pena! Era um círculo. Pronto! Um círculo de sorrisos! Chegou um, chegou mais outro e o preto foi tomando forma. Êta! Mas que gente bonita danada. E chegando mais um, subindo a ladeira, num caminhar a passos lentos, de repente para e grita:
- Ó lá, ó lá! Dobrou a esquina... PM! Dobrou a esquina... Meus versos!
Deixa, deixa! Deixe-o ir, deixe-o tomar curso, seguir caminhos. Trombado a qualquer, uma hora nos peitos verdade tomara em arrepios. E o indignado (aquele) como numa amnésia, só sabia repetir os antigos e agora novos palavrões:
- Ô cabrunco! Deixa esse caralho aí!
Mulher preta na roda, mãos nas cadeiras...
- Oxente! E eu, cadê, tô fora dessa folia?
Eu vim pra gingar, pra falar, recitar, aprontar e apontar dedo na cara também. Duvida? Um passo a frente, elegante em turbante dourado, desfila com seus metais espalhados, encantando a tudo e a todos. Aproximou-se e no centro da roda, em segundos, silenciou, transformou-se:
- Eu fui criminalizada. Fomos todos criminalizados! A política que esse governo tirano e sacana, exerce, pede, pede que nos rebelemos, pede que sejamos mais fortes, muito mais do que já somos!
Novamente, no meio da grande multidão, surge ele, a figura mais que indignada exclamando seus palavrões de estoque:
- Filho de puta! Deixe essa miséria aí!
Subiu cortejo, janelas abertas, azul, amarelo, verde, paredes...
Olha como esse Pelô é lindo não acha? Sim, e melhor que isso, só lá em cima no nosso espaço, onde há música, poesias e ritmo. Antes mesmo do espetáculo de rua terminar, um som, um zunido insistia em continuar, sendo a última das exclamações, o último esporro! Daquele que intitulado como “o indignado”, aos berros deflagrou:
- Ô desgraça! Larga essa desgraça aí!