PODE SER
POR CARLOS SENA

Pode ser que nada dê certo. Pode ser que tudo se perca na escuridão e que não haja mais luz. Pode ser que do amor nao reste também nada e que precisemos colocar um pouco dele num vidro com "álcool" para quem sobreviver saber que ele existiu. Pode ser que dos mares não reste mais uma gota d'água sequer. Ou também pode ser que não existam mais nem o homem nem a mulher num futuro qualquer da vida. Pode ser que Deus seja uma grande ficção da nossa frágil imaginação que o criou para segurar nossa barra na hora do sufoco. Pode de ser que satanás também sucumba do nosso imaginário contemplativo levando consigo os medos que nunca nos fizeram por absoluta falta de consistência. Pode ser que um dia a humanidade não amanheça, ou amanheça morta de vergonha pela sua falsa moral. Pode ser, também, que o sol se esconda envergonhado com a mesquinhez dos humanos e do seu egoísmo. Que setembro fique sem flores; que os vaga-lumes tenham curto circuito; que as mãos percam a capacidade do afeto; que os braços a capacidade do abraço perca... Também pode ser que os passos nossos torpecem no obvio e isso nos impeça de chegar ao futuro com os pés no chão.
Pode ser que o tempo se perca em si e que todos, de um dia pra outro, fiquem velhos debaixo da sombras das horas mortas. Pode ser que o mundo inteiro um dia deixe de falar varias línguas e que uma outra totalmente desconhecida nos invada para que nos ressignifiquemos enquanto pessoas. 
Então, porque tudo um dia poderá ser, é que urge viver HOJE, porque o amanhã compõe a fé, mas essa mesma fé nos poderá faltar por falta de solidariedade, por falta de amor ao próximo, enquanto distante "PODE SER"que esteja se preparando para ser véspera.