O Grito
O que dizer?
O Grito
Estalando nas sentinelas protetoras , auditivas
Que dançam desengonçadas e sem nexo
Ao mínimo sussurro
Mas o que eu falo não é de sussurro
Falo dos calos na garganta
Na inflamação latente, da febre que não se come, não se troca
Do nó
Do irrepresentável
Do que angustia e do que nem isso
Só circula sem se fechar
Daquilo, que nem de letra faz capricho
Que nem de neurose outra se aproveita
Que nem de dúvida se dá ao luxo
Que nem de real se explica
Que força a língua a um lugar subjugado
Que abre, escancara a borda úmida e mal acabada
Rasgando, escapando de sentido como saliva que escorre sem ver
Como berro para além do que se entende como berro
E desencrava o desespero, angustia, dor, loucura, desejo, não de quem berra
Mas, sobretudo neste rasgo de ar e sentido
De quem escuta
Espancando e violando
os ouvidos recalcados.