Contos da Vida
Contos da Vida | 03Set2013 02:24:20
Rio de janeiro 2 de setembro de 2013
Diana Balis
Contos da vida
Friburgo (Rio de Janeiro)
Adormecida no chão de vaga-lumes,
Reverencio a noite estrelada.
Um riacho correndo embaixo de tábuas de madeiras na floresta tropical.
O tronco caído regenera o êxtase da viagem.
Na noite de tranquilo frio, congelam as orelhas, as pontas dos dedos e o nariz.
O silencio diante do acaso, transpira.
Um monte de filmes para assistir na luz da noite.
A vida passa por meus olhos em segundos.
Um dia após outro, mas esse, sem luz, ilumina.
No passo a passo, eles voam e abrem o caminho,
Uma trilha aberta a minha paisagem humana,
Mundana de ídolos, ardores e escolhas erradas.
Essa caminhada é da elegância na noite.
Cercada por vaga-lumes,
Reverencio à vida.
Trancoso (Bahia)
O olhar de trás da Igreja
A igreja por trás dos meninos na capoeira
A escola em pés descalços
Os meninos pedem comida e fogem das aulas
O relato é perdido e sem estudos
Cem crianças sem escola
Trabalham na farinheira.
Uma família que bebe cachaça aos mortos,
A festa dura por toda a madrugada.
Uma lua cheia.
É enorme a luz.
É enorme a cheia.
O mar carregado de lua.
Uma mulher louca desfila na vila,
O gringo no meio do quadrado à pede em casamento.
Um louco tormento.
Ela rejeita,
Mas aceita a noite brilhante em seus pés.
Ajoelha e implora,
Ela pede que vá embora.
Ele chora.
Os vaga-lumes gigantes iluminam sua ida ao rio.
Os búfalos calados dormem.
O homem nu ao mar
É içado por pescadores.
A sereia nua pela vida inteira, cora.
Chora,
É enorme o amor que vibra.
Na correnteza leve, a brisa é fria,
Transpira.
Pereiro (Ceará)
Uns sem tetos
E redes para dormir
Todos sem água
Nos baldes, nos braços, no poço
As canecas são para banhar o corpo no relento
Um cinema de madeira e mosquitos
Vento, uivos, cordeiros e cabritos
Comida farta e visitantes ilustres da Cidade, os Cariocas.
Médicos, Enfermeiros, Psicólogos e técnicos
Brincam com as crianças na rua das cortinas e luzes vermelhas
As crianças arrumadas e banhadas, penteadas e pintadas
Acordam as seis horas da manhã para fincarem na porta
Esperam as brincadeiras de roda, da moça do Rio
Um frio na espinha, a rádio criada é boicotada
As histórias aumentam...
O chão adormecido de tremores de terra
Um cataclismo? O terremoto no Ceará?
Os homens do exército foram bloquear todas as passagens
Quem imagina tanta coisa? Chamem o padre Cícero para benzer.
O povo tem fé
Tem medo e fome.
Mas pedem água
E menos travessia.
Criado o Cristo Redentor no caminho
Marcando com os visitantes cariocas
Na foto.
Mangabeira (Belo Horizonte)
Subi uma serra que desce
Desci um morro que escorrega entre lamas
Por baixo das madres enclausuradas
Muitas crianças brincam na escola
Na rua da ladeira sem nada.
Um brilhante compra o terreno.
O Prefeito invisível na festa,
Inaugura o poste de luz.
Um caminho de aulas
Perdura numa rua que ontem deserta
Hoje vira a Escola Recreio.
Abaetetuba no Tijuco (Rio de Janeiro)
O Tião tira o meu chapéu
O elefante brame comigo, cantando o Tatu bola
Um leão ruge sem limites
No caminho por dentro, há cobras e bichos peçonhentos
Um monte de crianças passam por debaixo do pedaço de madeira, medem seus tamanhos.
Mostrando que nem cresceram tanto.
Um zoológico com balões e pipas.
Na Casa do Imperador, um parente da filha no quadro, posa.
Uma história viva na Quinta da Boa Vista.
Contando os anos de passeios em charretes,
Os patos e os pedalinhos,
Um pedaço de algodão doce.
Olho o rio e o canal,
Esverdeados com o tempo,
Descansa no galho serena maritaca.
Que proliferam além dos portões,
Na Tijuca.
Amar é linha
O fio tece teias
Emaranhadas
Entre as ilhas crescem
Os pés adormecidos
Nas expectativas sem fim
Presente em laços vermelhos
As fitas coloridas
Anunciam o novo tempo,
O tempo de amar.