OLHARES DÍSPARES
Dentro do quarto reina o silêncio. Abrigado, mal percebo a mudança da temperatura do lado de fora. O bater da chuva na janela não atrai minha atenção. A rua está deserta. Vislumbro sombras que se movem ao sabor do vento e um movimento quase imperceptível se faz notar. Não dá pra definir o que se oculta dentro daquele amontoado de trapos. Uma indagação surge: ‘Alguém em perfeito juízo sairia com um tempo tão ruim assim?’ Tudo parecia em fúria: o vento forte, a chuva torrencial, a rua alagada,... Mas, alguém parecia nada notar.
Era um ser humano, sexo indefinido, pequena estatura; envolto em roupas que não podiam ser classificadas como vestido, capa ou cobertor. Talvez, fosse uma mistura de tudo isso. Com a metade do corpo enfiado no depósito fétido, procurava avidamente por alguma coisa. De repente, ouço nitidamente um latido que retrata alegria, satisfação, companheirismo. Uma figura patética, de pelo ralo, cor e raça incertas; mostra a pequena cabeça, com as orelhas em pé.
O vulto fica ereto, trás na mão algo de valor e decidido sai dali conversando com um cão de pequena estatura que pula e balança o rabo indiferente a tudo, somente atento ao vulto e ao que o mesmo tinha na mão direita. O cão responde numa linguagem que somente seu companheiro entende.
Sentindo-me um estranho num mundo que é somente deles, decido por deitar na cama e fixo meus olhos no teto iluminado. Sinto-me só, não tenho com quem compartilhar minhas preocupações do dia a dia, nem divagar sobre as esperança imprecisas de um amanhã que não chega.
30/08/13