Mae
 
    Chorei, chorei todas as lágrimas diante do seu corpo. Chorei a ausência das reações humanas do seu corpo sem vida. Chorei a orfandade incômoda, o adeus forçado, a separação. Choro hoje a impossibilidade dos afetos. Mãe, sentir a ausência de alguém é dar sentido à sua existência. No cotidiano da dor, inscreve-se agora na minha alma a mais linda manifestação de amor, a sua vida transformada na verdadeira, autêntica, bela, eterna e divina poesia. Não há poesia sem dor. A vida nasce da dor. Nessa delicada e nobre arte que é a poesia, seu nome, Mãe, figura e se destaca com louvou no mistério do universo. "Não morre aquele que deixou na terra a melodia de seu cântico, na música de seus versos"
    Mãe, agora não choro mais. Mãe, agora o meu coração transborda alegria, paz, serenidade – gratidão à sua  vida centenária, gratidão pela magnitude indescritível de sua bela e iluminada vida. A senhora nasceu diante de uma majestosa serra que tem a mansidão da eternidade feita de pedra, e a cidade a seus pés –  Carmo do Rio Claro –, tem a calma da infinitude. Ali do alto onde tudo se avista, onde o vento mostra sua força e as nuvens sua amplidão; ali a senhora teceu com linhas de amor os mais lindos versos, compondo canções eternas. A senhora deixou em meu coração a permanência do instante. 
                     Roberto Gonçalves
                 Escritor
 
RG
Enviado por RG em 29/08/2013
Reeditado em 15/01/2018
Código do texto: T4456899
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