Estrangulando nó na garganta
Quando todos eram vivos, o sol não tinha a timidez de deixar o dia tão sombrio e a casa não tinha tantos espaços vazios!... Quando todos eram vivos, não havia solidão nos sonhos e muito menos brinquedos para divertimento. Nos alimentávamos de presenças e palavras na riqueza de um sorriso, na divergência de brigas. Imensa alegria acordar pela manhã e sentir o amanhecer do dia, com todos se esbarrando na porta do banheiro com alguém da casa. Tantas pessoas, passaram por esse mesmo apartamento. Quantas trocaram travesseiros e quantos segredos, escondidos atrás dos quadros. Saudade enveredando pela minh'alma e essa angústia súbita há tanto esquecida. Queria à loucura dos dias de atropelo e barulho e não viver o tédio de tantas lembranças. Queria sorrisos largos no canto da boca, do não estar sozinho, vivendo sozinho de momentos que não voltarão mais... Não queria essa paz de estar me questionando, nostálgico. Não queria essa saudade me apertando o peito, estrangulando nó na garganta. Lembro de momentos e momentos passam, mas deixas marcas e cicatrizes n'alma. Muitas fotografias amareladas na parede, outras muitas, dentro de álbuns, outras esquecidas em gavetas. Tudo que resta são lembranças e saudades, e pó revestindo os mesmos móveis e dentro dos armários, grãos de areia e aranhas fazendo esquecidas teias. No impacto que o mundo está em eterno movimento, engulo as lembranças e saudades num só gole, para que fiquem adormecidas num canto ensolarado da minh'alma e resolvam novamente despertar.
Tony Bahi@. - RJ - 21/08/1994.