PÓ DO TEMPO
PÓ DO TEMPO
Reabre-se a janela coberta pelo pó do Tempo, e no cenário do que um dia foi jardim o mato alto e seco sufoca sementes. Estéreis árvores, mas ainda com a imponência da juventude, abrigam pequenos pássaros na quietude de uma tarde resgatada nos porões da infância. Visível é a saudade, diante da velha porta que convida ao pulo sobre os buracos do assoalho - feridas vivas que corroem a casa em ruínas - e as lembranças fazem-se bem-vindas. O vento acaricia o rosto e o corpo se deixa flutuar num balanço que ganha o céu. Sob sons distantes e silvos de cigarras, desfilam dias de alegria e inocência. Que bom fosse assim a vida, balanço que vai e volta, a angariar nuvens, braçadas de sonhos... Porém, voa o Tempo espalhando no concreto o sal dos dias. Mas também nos dizem do aceno dos amigos de jornada, os quais mantém vicejante a flor da Amizade e só por isso já vale à pena seguir. Mais um olhar e se avistam frestas enormes na janela - o sol irradia Esperança, essa passageira oculta na jornada da vida.
Helena da Rosa
22.08.2013