COLAPSO NA COLÔNIA

Manhã. Desperto dos afazeres sonolentos com a chamada do jornal televisivo. Colapso na colônia – o mel pode desaparecer. Com a atenção flutuante acompanho a matéria e permaneço com o mistério do sumiço das abelhas, das colméias abandonadas e das pesquisas dos cientistas.

A literal realidade é uma metáfora. As colônias estão entrando em colapso, cada um por si e nada de mel. O que será da apicultura? Da polinização dos pomares? Das doces analogias? Dos remédios caseiros? Do significado de reunião? Dos ideais socialistas? Da imaginação romântica?

Talvez um vírus... Uma greve geral... Uma quebra nos estamentos... Os estudiosos estão procurando as causas enquanto vivemos situação paralela com a desagregação dos núcleos, o ceticismo e as tantas exclusões que isolam os indivíduos em cortiças estéreis. A valorização das atividades individuais em detrimento das produções conjuntas e o estímulo à misantropia com as muletas dos grupos virtuais.

As abelhas abandonaram as colméias e os homens, os ideais...

Restarão rainhas e operárias? Ou serão apenas maçantes insetos zumbindo nas bordas das latas de refrigerantes em busca dos restos de doces industrializados?

Mel? Resta-nos o fel para amargar os efeitos da devastação do meio ambiente e purgar as culpas em realidades mais solitárias. A expressão popular “ficar sem mel nem cabaça” é adequada para revelar o duplo prejuízo a que estamos sujeitos se não conseguirmos resgatar o mel literal e o figurado que dão o doce sabor à existência.

Helena Sut
Enviado por Helena Sut em 10/04/2007
Reeditado em 10/04/2007
Código do texto: T444526