Realidade Paralela
Ela fecha os olhos e te vê á sua frente, exatamente com os mesmos traços, gostos e cheiros. Ela imerge lentamente nesse mundo quase impenetrável e inexplorado. Viaja. E se apaixona. Há tanta coisa escondida nesse mundo, que ninguém vê ninguém nem mesmo imagina.
Ela tenta esquecer a realidade paralela que caminha no rumo inverso, na contra mão, sempre invertido do que deveria ser. E se afoga lentamente naquela magia. Quase morre. E quase deseja isso. Pois quer renascer da lembrança e juntar os cacos que largou pelo caminho, montando o seu novo eu. Agora límpido e transparente.
Não quer nunca mais sair da sua realidade. E ela pode permanecer o quanto quiser ali. Não importa mais nada. Ela o achou e ele a achou. Então tudo fica mais fácil, tudo é permitido e sempre descomplicado. Ela se pergunta por que isso não acontece do outro lado, por que todos estão sempre fechados e aninhados no seu próprio eu. Com medo.
Mas ali não existe isso. Pode-se enxergar toda a extensão dos cacos unidos, que quando se conectam transformam-se no mais cristalino dos vidros. E ela permanece em seus braços eternamente.
Ela abre os olhos, mas você não está lá, só o seu cheiro, o seu gosto marcado em sua língua. Ela emerge lentamente daquela realidade paralela e deseja exatamente tudo aquilo que não pode ter. E não entende por que.
Ela não sabe por que ninguém faz da realidade àquela realidade da qual ela saiu para tornar-se cacos novamente. Então ela deseja que seu corpo seja dominado pelo torpor incessantemente, pois ele se parece com o seu torpor. Explosivo e súbito, mas que permanece latente. Talvez como a morte. E então ela deseja que você exploda e vague com ela naquela realidade paralela, só dela.
A lágrima escorre pela cristalina face, e ela permanece parada ali, do outro lado, com a alma límpida e transparente vigiando ele que permanece vivo de banalidade.