Solidão de palavra
Não vou escrever pelo começo: vou continuar. Transcendem as letras como uma aura. Ou seria um halo? Nem sei. Há letras bailando em volta da palavra que já foi dita, mas ela se recusa a se repetir e o instante, aquele outro do já, já foi. É como se fosse um dentro que está de olho no espelho aguardando o momento de se revelar. Seria um tiro de misericórdia? Também não sei. Sei que sou inocente; a entrega sem garantias me deu o 'habeas corpus ad subjiciendum' e já me habituei ao sangue. Mas estou apavorada. Estaria em extinção a docilidade? Minha voz fadou-se ao silêncio. O seu silêncio é ensurdecedor porque faz poderoso o meu grito. É interno. É o âmago das vísceras. Volto a necessitar dela: da palavra. Ela e eu podemos agüentar. Sozinha, não. Mas não a quero ainda. Ainda quero ser o menos explícita possível. Quero esse instante divino do desespero e aflição. E, agora que me faço hermética, percebo a palavra; ela tornou-se cega.
Preciso dormir. Entre o sono e o mal que me domina, tange o esquecimento.