A hora do solstício (G)
Então uma nota preenche o que antes era silêncio, apreensão. Uma nota de horror, de tragédia e depressão. É o sol mais triste que alguém já ouviu. Ele soa cheio, vívido de cada nota, tão cheio e profundo que não se vê nada depois disso. Ele é tudo. É o que marca o começo e o fim do que tanto se esperava.
Cada corda que tocou, também tocou o interior. Marcou. E só. Não se apressou, mas também não se prolongou. Nem deu vez a outro acorde. Apenas ocupou tudo o que existia e, nesse instante tudo que existia deixou de lado o que fazia e o que era para sintonizar-se naquele breve instante de som, de vibração entorpecida e anestesiada. Vibração cortante.
Agora nada mais pode morrer, nada pode sangrar nem arrebentar. Com um arrepio incontrolável tudo foi desestabilizado com apenas uma onda sonora, mais grave que o normal. E fim. Fim de tudo. De tudo e de todos. Não pode haver morte daquilo que não existe mais, daquilo que deveria dar continuidade ao som e formar uma música. Música essa que nunca existiu.