Vive-se um tempo novo que se inova na própria perdição!
Parece não haver direito que supere o de quem está acima.
Não temos sobre o povo mãos de aço, nem mãos de lã.
Temos apenas mãos que fazem e desfazem,
que amordaçam e querem ser temidas,
mas que não cultivam o senso do certo,
do justo e do bom que fazem brotar o que importa:
a admiração e o respeito.
São mãos apenas que não se lavam,
pois não se sujam,
mas colocam outras mãos a se sujar por elas.
Perguntaria um homem a caminho de uma cruz incerta:
que mãos seriam essas?
Não há resposta,
há apenas um silêncio,
o terrível silêncio que antecede as mortes e as tempestades.
Há o silêncio que fala,
como também há a mão que nada faz,
bem como há a mão que corta
e também há aquela que incinera sonhos
e se veste de uma justiça nada cega,
que somente vê o que lhe importa.
Pilatos lavou as suas,
mas essas mãos que não se mostram,
quem as lavará?