NO ESPELHO DAS MANHÃS

Haverá veracidade possível sobre o tempo de permanência neste plano terreno? Sobre este fio único somos trapezistas, nada de antecipações anunciadas... Sou apenas o condenado à maturação que a Providência tolerantemente permite. E agradeceria ver o sol nascer por mais uns pares de anos. Só pra me alumbrar com o calor que a emoção extasia, no escovar matutino dos meus velhos dentes, e a constatação do decurso do instante no espelho das manhãs. Pobre do meu eu poético, se me furtarem o hausto de imaginar-me inútil ardiloso. Eu sou o Nada que se move lentamente no solar engenhoso das inquietações...

– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.

http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/4437176