Morreu de mala
Quantas seriam as dignas formas de morte
para um homem de ilustre grandeza
tamanha competência, infindável reconhecimento,
e incomparável mal caráter, quanto os de Paulo Ferreira Albuquerque?
Pudera morrer de desastre, ataque cardíaco,
engasgado com o escargot que pegou vias erradas,
ou quem sabe até vítima de latrocínio,
manchete tão comum nessa selva de concreto armado,
a qual ele mesmo ajudou a construir.
Mas achou, o homem, morrer de mala.
Não por o mala que sempre foi.
O mala que mentia pra mulher às noites de quarta, dizendo que iria jogar,
Que operava cartel,
Que tirava proveito de tudo.
Que, se pudesse, venderia até o fígado da própria mãe.
Mas ela já morrera.
Morreu literalmente de mala,
ou melhor, pela mala.
Assassina mala.
Saiu apressado,
Acenou para um táxi
Levantou sua mala
Pesada mala
Quebrou-se a alça
Desequilibrou-se.
Foi de corpo inteiro ao chão.
Conheceu seu crânio o meio fio caiado.
Traumatismo mortal.
Morreu de mala.
Quem lhe mandou tentar ser mala e comprar mala com o coreano mala da esquina?