HOJE EU CANTO PRA TI
Sabe pai, amanheci com o olhar de ontem; as meninas dos meus olhos te encontraram no sonho da madrugada, sentado no mesmo sofá da casa grande onde eu nasci.
O meu travesseiro chorou comigo a tua saudade!
Atravessei a barreira da lembrança, montada naquela nuvem de algodão, tecida pelo carinho da tua voz, quando chamavas meu nome.
E me sentei ao teu lado, no tempo em que o tempo fez tempo para eu te abraçar.
Esbarrei no silêncio gelado da tua boca e derrubei o perfume da tua quietude, que exalou em meus braços. E abracei a minha infância e juventude contigo.
Lembrei-me da roda gigante , quando apertei tua mão com tanta força, que esmaguei o meu medo.
Lembrei-me da Arca de Noé e da enchente que atravessamos, naquele passeio de domingo.
Lembrei-me das “trancinhas” que eu fazia em teus cabelos, que me eram verdadeiras “obra de arte”! Quanto carinho e paciência te escorriam do olhar!
Lembrei-me da música (soando em meus ouvidos), que tua boca cantava e me encantava, até a chegada do sono.
E da tua “garrafa” de perfume de maçã, que uma só gota perfumava o mundo inteiro! Como me lembro!
O teu andar apressado e a tua calma em viver, me ensinaram que o tempo não pára e que é preciso duas pernas para carregar a vida!
A tua fé e esperança no amanhã me fizeram confiar nos meus passos... seguir adiante é o destino.
O teu destemor me fortificou frente ao inesperado.
E assim, no teu destemor, salvei-me do medo.
Na tua fé, encontrei meu caminho.
No teu espelho de vida, me penteei.
Canto agora para enganar a saudade que me invade. Que o eco da minha voz ressoe aos teus ouvidos, na mesma canção que me cantavas ainda ontem.
Embalo-te em meus braços, “meu pai menino...Dorme em paz o teu sono eterno! Hoje eu canto pra ti...
“Vamos maninha vamos
Na praia passear
Vamos ver a barca nova
Que do céu caiu no mar.
Nossa Senhora vai dentro
Os anjinhos a remar
Rema... rema... remadores
Que essas águas são de flores!”
A tua bênção, meu pai, onde quer que estejas!