Antes tarde do que nunca (sublevação)
Jorge Luiz da Silva Alves




       “Tá legal: preto no branco – não, não, não! Espere, é cinza no cinza; num mundo de moral relativa, por que definirei aqui e agora o certo-errado de minhas decisões?  Pronto: cinza no cinza, fiz porque quis; não que desconhecesse as conseqüências, mas porque quando a paixão toma a dianteira na pista sinuosa da existência, argumentar com base em precisões é hipocrisia verbal, canalhice disfarçada de retórica. Quem não deseja chutar o balde das retidões? ‘Manga com leite mata’, ‘exu é diabo’, ‘ele mata mas faz’, ‘ela é preta mas é limpinha’, ‘mentira tua, teu padrasto tá certo’...Foram as certezas que me entupiram de dúvidas e incentivaram-me ao exercício nada solene da subversão social. Subversão do quê?! De verbos podres?
         Tá legal: cinza no cinza, quer saber? Fiz, sim! E foi no intervalo do almoço – que me perdoem as crianças, ainda não sabem da tragédia que é o ingresso da mentirosa vida adulta, pobres discentes – inocentes;  não deixo nesta missiva arrependimentos ou explicações, só certezas. As certezas que me venderam ao preço dos rubis e eram bijuterias rasteiras. A certeza de que, à deriva na tempestade das descobertas, sou mais feliz do que flutuando numa bonança encapuzada. Quem ler, já sabe: não voltei para a aula, não voltarei para o conselho mensal,  para a rotina, para a miséria duplamente degradante de minha condição profissional e social.
      Tá tudo legal – comigo e com o meu acompanhante, que aliás, também deixou este vazio curricular para me encher de vida. Fizemos por opção consciente. E, por favor...
      ...não enganem mais os pequeninos, assim como fui tanto tempo enganada. Eles merecem  UMA CONSCIÊNCIA".   


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Jorge Luiz da Silva Alves
Enviado por Jorge Luiz da Silva Alves em 10/08/2013
Reeditado em 11/08/2013
Código do texto: T4428868
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