TRISTE DESPEDIDA...
Minha avó deixou o palco da vida para continuar sua história, sabe Deus em que horizonte,justamente no momento em que eu, trancada no meu mundo de sonhos, tentava enfeitar com o desenho das letras, a folha parda, rasgada ao meio, do papel que guardou os pães naquela manhã.
Eu assoprava as narinas dos meus personagens enquanto o oxigênio das narinas de minha avó se esvaía...
Ela se foi, diziam...morreu do coração.
Os personagens aos quais tentei dar vida não tiveram rostos, não enxergaram a luz do mundo. Foram abortados em plena cópula. Mas eu os conheci, eles existiram; assim como minha avó!
Nunca me perdoei por não ter lhe dado o último beijo na face, por não ter visto pela última vez o brilho daqueles olhos cor do céu e ter lido neles o adeus...
Estava tão concentrada no meu mundo de sonhos que nem o barulho, a correria de todos, despertou-me a atenção. Meus treze anos de tanta imaginação!
Criar rouba-nos do mundo. A imaginação precisa de asas, precisa voar em céus diversos, necessita de deslocamento de espírito. E eu, eu não me encontrava ali.
Ao dar-lhe o meu adeus seus olhos já estavam cerrados.
O cortejo fúnebre seguia por terra enquanto no céu as nuvens formavam um rebanho imenso de carneirinhos que seguiam o cortejo também! Mais uma ovelha em breve se juntaria àquele rebanho!
Segui junto da multidão de amigos o caixão que lhe guardava o corpo; seu último leito,salpicado de flores!
Antes da entrada para a morada eterna foi aberto o caixão para a derradeira despedida. Gotículas de água ponteavam-lhe a testa como se houvesse suado por conta do calor da caminhada.
Selei nossa despedida com uma lágrima pedindo-lhe perdão.
Despedi dos meus escritos com o cheiro ainda fresco das flores que enfeitavam o corpo de minha avó. Eles tiveram o mesmo destino; eu os sepultei junto dela.
Passei pela juventude sem querer mais acasalar ideias, conceber personagens e gestar sonhos!