Eu sou a platéia
Sentei-me na sacada, comendo uma maçã. Observei de longe as pessoas descendo a rua, os carros correndo na avenida. Uma sensação estranha... seria aqui o meu lar? Eu não sei. Nunca soube, na verdade, responder à essa pergunta. Vejo a vida passando, como uma telespectadora distante e inquieta de um programa de auditório. Por favor, me escolhe! Quero participar também! Eu suplico por uma migalha de vida, por uma migalha de satisfação. Mas não. O único sentimento que permanece é o de “quem sabe na próxima, acontece comigo”.
Mas a vida prossegue no marasmo. O marasmo mais agitado do mundo. Na mesa, os textos para ler se acumulam. Tantas informações desejando serem lidas e absorvidas; e tanta angústia que me oprime a ponto de tornar os textos mero apoios para livros. Livros esses cheios de vida. Onde os personagens vivem (!) e não apenas existem.
As árvores chacoalham de um lado para o outro e o vento despenteia – ainda mais – meus cabelos longos. Olho para o horizonte, onde o sol vai se escondendo atrás das curvas da Universidade de São Paulo; e as luzes dos quartos do Hospital Universitário são acesas. Lá dentro vidas se cruzam, e muitas lutam para continuar nesse circo de horrores. E eu, do alto do meu trono, no apartamento 141, assisto a tudo. Como uma mera telespectadora ansiando pelo dia em que me será entregue o papel principal.