TECELÃS
Tecemos nossas teias de sonhos e névoas
para não ferir a retina ou os neurônios de quem ainda não nos conhece.
Tecemos a concretização dos sonhos daqueles que
ainda não sabem como torná-los reais.
Tecemos o afago, o carinho e oferecemos aqueles cuja vida está começando...
a misericórdia e o perdão para aqueles cuja vida está se esvaindo...
Tecemos o gesto nobre para quem se ajoelha, incentivando-o a erguer-se...
Tecemos também, se necessário, o golpe descomunal
contra o orgulhoso que tenta dominar o que nasceu livre e livre morrerá...
Tecemos o acolchoado do ventre para acolher a semente
e aguardamos sua germinação, com a euforia
daqueles que esperam um presente de valor incalculável...
entregamos nossa vida àquele que é o motivo das nossas dores...
e esperamos, ansiosas, para o embalar nos braços....
alimenta-lo com a seiva do nosso corpo...
posto que ele é, a partir de então, o dono do nosso sono...
do nosso sorriso...
da nossa lágrima...
do nosso encantamento!!!
Passa-se o tempo... e o ensinamos a falar...
caminhar... ler... escrever...
contamos-lhe sobre a verdade da vida, do amor...
e quando Saturno se avizinha...
talhando nossa face com o escopo da experiência...
do Tempo...
tecendo em nossa cabeça uma tiara de prata...
quase sempre somos tão somente aquela que
se habilita a manter acesa a chama da lareira...
do lampião...
da vareta de incenso de mirra e aloés...
aquela cujo prazer é preparar a tigelinha de sopa aromática...
as cobertas da cama... a almofada...
por que nunca esquecemos a forma de tecer
nossas teias de sonhos... e névoas...
de sóis e luares... de céus estrelados...
somos mulheres...
somos lobas...
somos flores...
somos fadas...
somos feras...
somos a VIDA que ainda vem... que é... e sempre será!!!
(Adda-nari)