RENASCI

Tudo escureceu ao meu redor como se de repente

o mundo fosse um poço imenso, sem fundo... só escuridão e silêncio...

Fechei os olhos e regressei ao útero de minha Mãe...

Lá, imersa e calada, como uma ostra no fundo do pântano,

gestei meu coração dias-após-dia.

Acompanhei a conscientização dos meus ouvidos no lugar exato.

Um selo incandescente foi posto sobre meus lábios sem qualquer piedade.

Uma trava de liga atômica prendeu minha língua em sinal

de que não devo falar a menos que seja impossível ficar em silêncio!

Meus dedos perderam a impressão digital, a sensibilidade.

Esqueci os números do seu telefone, um-a-um!

Aos poucos recuperei os ouvidos da minha Alma Imortal

sua sensibilidade táctil,

sua coragem, ante o espectro dessa voragem sombria, a quem chamam solidão!

O som da sua voz trouxe melodia aos búzios e as conchas, outra vez!

Agora uma orquestra magnífica

preenche a atmosfera marinha com sons cuja beleza é indescritível.

O vôo da gaivota tornou-se mais leve... decidido...

Desconfio que aprendi uma dura lição: Tenho dois ouvidos, mas uma boca apenas.

Meus dedos e meus olhos não contam, mesmo quando a voz é virtual!

O silêncio já não rosna feroz, para mim.

Não dói mais, a ferida está cicatrizando!

Não ouvindo você, reaprendi a ouvir a voz do meu coração,

no som silencioso da brisa que acaricia meus cabelos longos e grisalhos,

no som do vento que brinca com as folhas que caem,

na luz protetora da lua que sempre me envolve macia e cúmplice,

feito os braços de minha mãe...

no calor inclemente do sol, quando a pino,

deixa manchas escuras em minha pele, já tão escura!

Na beleza da alvorada trazendo um novo dia, pela mão,

ou na melancolia crepuscular, que leva consigo o dia cansado para dormir e sonhar!

Tenho certeza de que nunca mais me perderei de mim mesma,

nos labirintos de concreto desse prédio frio e impessoal, conheço o portão da saída.

Conheço a beleza dos primeiros e dos últimos raios do SOL!

Reaprendi, na sua ausência, a usar a bússola do meu coração,

guiando-me através da solidão desse Vale Sombrio, ao encontro do quê, ainda não sei,

sei apenas que um dia chegarei lá.

O SOL não deixou de sorrir, também, para mim.

Reaprendi a segurar minha própria mão e seguir em frente, sem deixar de sorrir. Seja bem vindo, outra vez, Xamã Silencioso/Abelha...

Munay.

Adda nari Sussuarana
Enviado por Adda nari Sussuarana em 06/08/2013
Reeditado em 05/09/2015
Código do texto: T4422610
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