UM ANJO CHAMADO WEBER
O professor Weber parecia um anjo. Gostava sempre de usar a roupa branca de enfermeiro. Costumávamos encontrá-lo à sombra dos fícus-benjamim, na calçada da Rua Padre Mororó, onde fica o curso de enfermagem São Camilo de Léllis, do qual era ele o diretor. Fazíamos, então, questão de cumprimentá-lo e sentir o forte aperto de mão. Ele tinha um apreço por todos, tinha os braços abertos, o coração generoso, exalava simpatia, amizade, benevolência.
Mas não vamos mais encontrá-lo nem sentiremos nunca mais aquele aperto de mão. A Rua Padre Mororó está agora vazia. Os fícus-benjamim descansam suas sombras centenárias nas calçadas. Deus os fez com mil folhas, ouvidos e olhos.
Da copa vertem lágrimas, cipós tristes e quando é madrugada, o vento gélido sussurra canções nos ouvidos das figueiras, deixando cair folhas em silêncio, dobradas, escondendo segredos e recitando versos.
T.S. Eliot disse em um poema que abril é o mais cruel dos meses. Para nós, poeta, julho foi devastador. Fomos tomados de surpresa avassaladora com a morte incompreensível do professor Weber e uma surda agonia em nosso coração feneceu.
Mas a morte não é nada. Apenas não vamos mais encontrá-lo. Conforta-nos, o nosso coração, só em saber que naquela rua, agora, verdadeiramente mora um anjo.