Que me venha a arte

Sobreviver, navegando por um oceano de águas e almas geladas, de calmarias?

Ora, que mansidão inquietante!

Nem mesmo uma vida, carregada com todos os temperos e contrastes, conseguiria me contentar, agora. O maior dos prazeres já não o será, tão assim, no próximo segundo. Pois, no fundo de um poço, haverá sempre mais chão para cavar.

Minhas escalas são incansáveis; movem-se a todo momento, escondem o fim. Eu carrego programações que não compreendo.

Tentarei ser deus, em cada deleite, em cada instante. Tentarei morrer para ressuscitar. Serei bravo, heroico. Serei covarde, sobrevivente. Provarei os sais e os doces do mundo. Esticarei a mesma corda que me prende e arrasta. Mesmo que me toque, dentre tantos perfumes, o mais forte, nada me bastará.

Pouco saberei dos limites, tampouco das alturas e profundezas que dizem existir.

Que me venham exageros escrachados, aberrações de alegria e dor.

Que me venha a Arte, suas melodias, cores e sabores, por favor.

Aluísio Azevedo Júnior
Enviado por Aluísio Azevedo Júnior em 04/08/2013
Reeditado em 29/08/2013
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