Que me venha a arte
Sobreviver, navegando por um oceano de águas e almas geladas, de calmarias?
Ora, que mansidão inquietante!
Nem mesmo uma vida, carregada com todos os temperos e contrastes, conseguiria me contentar, agora. O maior dos prazeres já não o será, tão assim, no próximo segundo. Pois, no fundo de um poço, haverá sempre mais chão para cavar.
Minhas escalas são incansáveis; movem-se a todo momento, escondem o fim. Eu carrego programações que não compreendo.
Tentarei ser deus, em cada deleite, em cada instante. Tentarei morrer para ressuscitar. Serei bravo, heroico. Serei covarde, sobrevivente. Provarei os sais e os doces do mundo. Esticarei a mesma corda que me prende e arrasta. Mesmo que me toque, dentre tantos perfumes, o mais forte, nada me bastará.
Pouco saberei dos limites, tampouco das alturas e profundezas que dizem existir.
Que me venham exageros escrachados, aberrações de alegria e dor.
Que me venha a Arte, suas melodias, cores e sabores, por favor.