UM DEDO DE PROSA

Venha tirar um dedo de prosa comigo,

Chegue aí, tome assento, falemos de algum poema

De Manuel ou desse Mário. Do louco trânsito,

Desta falta de chuva ou de como seria

Se não fosse o luxo do silêncio à janela.

Hoje é sábado e meu coração derrama arte,

Fazendo água e tentando conhecer verdades

De todas as mentiras. Venha já, me diga

Que há fatos, sim, e que Nietzsche estava enganado.

Hidrate a pele de seus lábios e destrua

Esse formigamento teimoso dos meus.

Quero a prosa, mesmo que seja sem palavras,

Mas que me ouça até o final de minha história.

E que me dê o entendimento do olhar fixado

Em Minh ‘alma, para que eu possa ser eu mesma

Na viagem dos seus olhos e dos meus, buscando

Letras entre palhas, parindo algumas frases.

Vamos, aproxime-se, puxe cá a cadeira

E descanse as palavras, para que possamos

Olhar pela janela, comunhão só e quieta,

Quando o coração tudo grita sob os panos.

Manuel pode ser um qualquer, Mário também,

Mas falemos dos versos, esses que nos dão

E perfuram questões e eu olharei o seu perfil,

Engolindo seu atávico e triste silêncio,

Palavra por palavra, sabendo que não é

Milagre, mas que a física é milagrosa.

LONDRINA, 04.08.2013

OO:53

Dalva Molina Mansano
Enviado por Dalva Molina Mansano em 04/08/2013
Reeditado em 04/08/2013
Código do texto: T4418488
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