Tinta salgada
Quisera ter o dom de transformar em tinta e papel o sentimento que de verdade sinto.
Usaria canetas e mais canetas de tinta vermelha para sangrar a dor que paralisa minha alma.
Usaria tinta preta para enlutar aquilo que em mim morreu.
Usaria tinta azul, pra chegar a Deus minhas orações.
A tinta que uso agora, não tem cor, mas tem gosto de sal.
Ela sai dos meus olhos e dessalga meus sentimentos, minha solidão.
A tinta que uso agora, não tem cor.
Ela é da cor do silêncio que vela mentiras e verdades.
Ela passa pelo papel e o deixa em branco.
Folhas e mais folhas em branco.
Uma pausa silenciosa nas palavras e nos sentimentos.
Uma pausa e um vão.
Essa tinta não escreve palavras, mas marca o papel.
E cada página é um dia que me afasta do melhor de mim, de nós e de algo que um dia valeu a pena.
Alessandra Coutinho