Inspirado em "Teimosas flores"
                                             de Arana do Cerrado.


A dona das flores

Abrir de asas, sobre o corpo de dentro, onde habita a alma...Ela quer chorar pelo que vê e sente, mas está seco o vale das lágrimas, como tudo à sua volta...Ficou apenas um cacoete no canto da boca. Nem uma furtiva lágrima escapa. As mãos, transformadas em calos, feitos pelo cabo da enxada. A pele carcomida pelo sol, arrancara o resto da beleza farta da juventude e caminhava devagar. O corpo não obedecia mais aos seus movimentos. À tarde sentava de cócoras em frente ao seu casebre e ficava pitando um cigarro de palha, despedindo-se do dia quase indo, vermelhidão no infinito . Tudo já se fora, como se tivesse sido apagado por um mata-borrão. Ela nem sabia mais rezar ou perdera totalmente a crença. Talvez lhe restasse um fio tênue de Fé, feito fiapo de luz que entrava casebre adentro. Flores não brotam em árido chão, mas ela trazia sempre flores em seus cabelos. Nos finais de tarde, seus pensamentos, eram quase sempre os mesmos. A lembrança dos filhos mortos... Não vingou um sequer, para fazer-lhe companhia e dar-lhe netos. As crianças que nascem naquele fim de mundo, não são férteis. Já dizia sua avó. Antes dos últimos vestígios de luz, ela fazia o caminho de todos os dias. Ia para atrás da casa, percorria pequenas covas, marcadas pela Cruz de Madeira, acendia a vela, tirava uma à uma as flores dos cabelos, colocava em cima das flores mortas, andava pequena feito Lua minguante ou Céu sem estrelas, pelo quintal, como se fora aléias.

Tony Bahi@.
Tony Bahia
Enviado por Tony Bahia em 30/07/2013
Reeditado em 31/07/2013
Código do texto: T4411884
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.