Terminal
Vi seus grandes olhos assustados de relance, entre uma de tantas fracassadas fugas de te encontrar. Desviei rostos e existências, procurando um refúgio que pudesse me abrigar de sua presença ameaçadora e de minhas lembranças perturbadas, que sempre me fizeram dar de cara com você. Uma fuga retroativa, como uma contagem regressiva do eterno, do infinito...
Corri e despenquei de precipícios e me afoguei no mar de solidão que somos nós dois. A saudade ainda marca a extensa dor de nossa separação.
Quanto tempo faz!
Quanto tempo faz que me pergunto: " e se fosse diferente, e se tudo tivesse sido diferente, quão diferente seria o nosso tudo?"
Tanto tempo faz!
Mas agora a verdade me sacode com um soluço violento de dor, me machuca a alma e a dor, é apenas uma passagem triste por entre as luzes de um terminal.
Fecho os olhos e evito me encontrar, olhar e ver seus grandes olhos a me perseguir, a me fascinar, a me devorar, me corromper, me dilacerar, me rasgando com fúria, com vontade, cheio de amor... Isso me derrete, me faz delirar... E sem me tocar, meu passado te pertence...
E, nesse terminal, se encerra minha sanidade, se interrompe minha busca... Nesse terminal, termina os momentos de sobriedade, lucidez...
Sorrimos educados, eu toco em sua mão... Viajamos em lembranças e viramo-nos as costas...
O meu passado te pertence... Meu futuro se espelha, nas vidraças do terminal.