Palavras ao vento
Gostaria de ter a idade das revoltas
A energia pras retóricas
Uma motivação metabólica
Desejaria ter muito mais utopia
Disposição para ser guia
Empunhar alguma bandeira
Acreditar que a cegueira
Era de quem não me seguia
Ah! Como eu gostaria!
Pode ser que esse marasmo dos jovens atuais
Seja porque o combustível das lutas
Já foi gasto há tempos atrás
Que hoje se saiba o que acontece como jamais
Saiba muito! Saiba mais!
E aí, não é heróico bater em pato do povo
É tarefa dos que sentem os interesses ameaçados
Nas concessões, nas partilhas, nas quilhas da condução
Nas tendências equitativas de uma distribuição
Há mentiras deslavadas? Provavelmente!
Há muita gente mal intencionada? É patente!
Há algum tipo de canalha se beneficiando da posição?
Aos montes!
Há desvios e ilícitos? Claro! ...Se não seca a fonte!
Sempre fomos assim? Fomos!
Mas não se tinha notícia!
Pudera! Tudo estava “em boas mãos”!
Tudo estava “do lado certo”
Quem já viu advogado famoso defendendo pobre?
Quem já soube em detalhe (ou até se interessou)
Pelo que se discute nos gabinetes dos magnatas?
Quem sabe qual a verdadeira relação da imprensa
Com o verdadeiro poder (o que não é auferido por voto)?
Quase ninguém!
Quase nenhuma das vozes que bradam hoje
Estimuladas pelas informações fáceis e livres de pressões financeiras
Aquela, dos “patrocinadores”. (democracia)
É que quem patrocina usa uma verdade oportunista
(Para os amigos tudo, para os inimigos, a lei!)
E nós, povo (se é que ainda somos um só povo)
Somos a bucha de canhão
A massa de manobra com as denúncias como armas
Mas a luta é travada nos bastidores!
Somos apenas os soldados
Armados com uma verdade relativa
Que nos enche de orgulho pátrio
Ou revolta reativa
Então, devem-se cruzar os braços e não bradar?
Não!
Deve-se deixar a coisa como está?
Não!
Porém deve-se principalmente lembrar
Que essa era a única chance
Oito anos em quinhentos!
Que um sincretismo de tendências ideológicas
Teve que, por nossa cegueira, se materializar,
Flexionando para governar
Falta pouco para o país retornar
Voltar a ser aquele onde se sabe pouco quando não é interessante
Aquele que a estética européia é meta constante
Aquele onde dá orgulho ser rico num mar de pobres
Onde a finura do presidente nos torna mais nobres
Onde as notícias voltam ao normal
Onde não sabemos quem é cara de pau
E pelo menos os que serão importantes...
São todos tão elegantes...