Lúgubre emudecer


Acaso o amor é maldição? Amar-te em demasia é o preço que pago por qual pecado?
E o abandono... Fiz por merecer?
Arde a única certeza que se mantém viva em meu peito: - Não adianta fugir!
Tu és parte de mim, a simples e necessária respiração faz-me lembrar você. Sinto a todo instante que o cruel destino que nos separou almeja saciar a sede de quem tanto almeja ter-me há seu lado no pós-vida.
Mais um gole de vinho e escrevo os últimos versos... Observo a pequenez da humanidade e reflito em minha insignificância, de pé na sacada do décimo andar de meu triste apartamento.
Minha mente perdida vagueia sem rumo, sem direção! Busco a calma através de boas lembranças e aflita percebo que a fria despedida anulou o resgate da bem-querença.
A solidão é a navalha que só faz dilacerar meu coração oprimido nesta depressão maldita.
Fumo um de meus inofencivos cigarros, pois mortal é o amor que me envenena a alma, e sinto o vento gélido cultuar minha tez, entoando seu melancólico cantico.
A neblima acolhe minhas palavras desconexas em uma breve tentativa de prece inacabada. Um brinde ao universo e liberto-me da dor que tanto me oprime... De braços abertos abraço o mundo em queda livre e eis que tudo chega ao fim.
Quando amanhecer verás a mancha na calçada e só te peço: -Não chores por mim! Não... Por favor não chores!
Minha fraqueza não merece a compaixão em tuas lágrimas.
Tanto sofri vendo o carinho que dedicaste a outra e chorei tantas noites reclusa em meu canto, amargando a saudade, refém da amargura. Me consola saber que na ausência tua a morte há de afagar-me no eternal adormecer, e embalar-me sombriamente até que possa esquecer teu semblante no dia do adeus.
 



 
Christinny Olivier
Enviado por Christinny Olivier em 18/07/2013
Reeditado em 12/11/2013
Código do texto: T4393760
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