Dias difíceis de Páscoa

Eu deveria ter imaginado que o seu silêncio tinha muita coisa pra dizer.

Eu deveria ter percebido que aquelas palavras não precisavam ser ditas naquele momento.

Mas não, eu não deduzi. E quando te fiz aquele pedido que você, de certa forma, prontamente atendeu, eu proclamei a volta da minha dor. A mesma dor? Será? Uma dor tão diferente e tão igual... A dor do improvável. Impossível, talvez. Mas hoje ela é sua também. Eu sei, você me disse. E isso só aumenta ainda mais a minha. Dividir com você essa dor é um fato inédito (!), mas não me consola. Só torna as coisas mais difíceis porque o sofrimento é ainda maior. É como uma forma matemática simples. Antigamente era apenas o meu. Agora é: o seu + (o meu x 2). Chegou ao resultado? Será que há resposta na última página?

E é estranho que o seu pareça-me tão grande quando você o expressa com o seu jeito próprio de dizer e com suas palavras únicas e, justamente por isso, extremamente sinceras. (Quem emprega o adjetivo "zoado" numa frase, como sinônimo de "estar sofrendo"?)

Ontem não precisei ouvir um "blues" pra sentir novamente saudade. Foram as "pequenas asas" que me fizeram voar. Voltar no tempo, fazer um pedido e depois amargar, amargar e amargar. A improbabilidade, a impossibilidade, a distância, a saudade. E mais o seu amor declarado em palavras medidas e medíocres.

Amargar e ressentir: foi isso que fiz. E também sentir vontade de correr. Correr de mim, para você e por conta da vontade de outras coisas mais. Correr no tempo, pra trás. E voltar àquela Páscoa de que me lembro do melhor chocolate. Do mais gostoso. E do sentir-me um certo tipo de celebridade admirada. Mas sobretudo da felicidade sentida mais intensa no momento a sós, depois de tanto tempo sem reconhecê-la. Aquele em que você me olhava com olhos que brilhavam e que deviam estar enganados a meu respeito, porque logo depois veio a decepção.

O que será que estávamos fazendo, o que será que estava acontecendo conosco há exatos anos atrás? Provavelmente estávamos falando ao telefone ou trocando mensagens pelos "enorme e explosivo" celulares.

E hoje? Hoje escrevo o seu nome repetidamente num papel. Algumas vezes coloco o meu ao lado para ver se combinam. E pasme: eles significam a mesma coisa. É, pasme mesmo. Esse é mais um fato intrigante sobre nós. Além disso, eles não dizem nada a nosso respeito. Ambos. E são raros. Ambos. Conheço poucas de mim e menos poucos ainda de você.

Será que isso quer dizer alguma coisa? Acho que não. Como acho que quase todas as coisas no fundo não querem dizer nada. Absolutamente. Quase todas, na verdade, porque aqui sim há uma mensagem subliminar. E ela quer dizer:

"Salve-me... Salve-me... Salve-me... Salve-me... Salve-me... Salve-me... Salve..."

Rúbia Mussi
Enviado por Rúbia Mussi em 06/04/2007
Reeditado em 07/04/2007
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