ESPERAR
O tempo passava desesperado por entre os dedos. O silencio lúgubre sufocava o som dos ponteiros que se moviam atrás de mim como se tentassem me empurrar para uma atitude desesperada. Era frio e vazio dentro do quarto com uma janela fechada que cedia passagem aos raios solares que nada mais serviam que para iluminar fracamente o ambiente.
Eu olhava o papel tão fixamente que suas linhas dançavam como dois cisnes ao som de uma sonata num lago ao luar. A caneta movia-se tão rapidamente que parecia querer pular da minha mão.
Entre uma suspirada e outra eu olhava para o lado tentando entender o silêncio que se abatia sobre minha cabeça. Em minha cabeça um milhão de possibilidades levitavam entre o real e o impossível. Algum tipo de prece me habitava num apelo desesperado de que quaisquer das linhas do pensamento fossem a real, exceto a que de fato eu esperava.
Pensava se a culpa era das linhas que antes fiz surgir. Imaginava até onde aquele silêncio poderia alcançar. Minhas mãos passeavam por sobre a mesa em busca de uma explicação lógica para aquele momento, mas tudo parecia tão áspero que eu sentia minha a pele descamando lentamente ao arrastá-la pela superfície fria que jazia diante do meu corpo.
Já não doía pela espera. Doía pela incerteza do que de fato surgiria. O peito queimava em angústia. O ar entrava e saía apertado, como se não houvesse espaço suficiente para sua existência dentro do meu corpo. Meus olhos ardiam como se aquele ar gélido fosse lacrimogêneo.
Larguei a caneta e comecei a tamborilar com os dedos uma melodia tão descompassada que meus ouvidos sentiram vontade de se tapar para que o silêncio nefasto retornasse ao recinto. Mas quanto mais eu desejava parar mais o descontrole chegava aos meus dedos numa fúria insana, como se a culpada daquele momento fosse a mesa que se estendia diante de mim.
Até que você apareceu, sedenta e inconformada, tão fúlgida e consonante, que fez meu corpo tremer numa emoção fugaz fazendo todo aquele momento anterior dissipar-se em alegria. O ar enfim tornou-se harmônico. A melodia que soaste em minha mente fez meus ouvidos quererem mais e mais de tua música fagueira. Meus dedos se acalmaram e caneta retornou reta e prudente ao papel com suas linhas perfeitas e coloridas. Nunca uma ideia mexeu tanto comigo. Nunca um minuto demorou tanto.