Última colheita e uma surpresa
Última colheita e uma surpresa
(quarto relato do cogumelo mágico)
No texto anterior falei sobre o kit de cultivo que comprei e também a respeito das três primeiras colheitas. O quarto e último ciclo brotou, e repetindo o mesmo procedimento, colhi-os antes de ficarem pretos, pus numa meia atrás da geladeira durante um dia para desidratar, e finalmente congelei a espera da hora de tomar. Não comentei com ninguém sobre isso.
Nessa sexta feira pela manhã meu pai me ligou chamando para fazermos uma procura de terreno onde tivesse boi zebu, como havia chovido dias anteriores, e no site os cubensis estavam fora de estoque e também amanheceu com sol, era possível que em pasto do boi, nas fezes deles, encontrássemos os cogumelos. Foi difícil encontrar informação, mas em São Gonçalo encontramos o tal pasto, e perguntamos aos trabalhadores do local, explicando-nos pesquisadores do fungo, fomos informados que outras pessoas procuravam o mesmo local para colher cogumelos.
Certos de que tínhamos grande chance de encontra-los, entramos no mato em busca das fezes brotadas. Pisamos em ortiga, botamos os pés na lama e até encontramos cogumelos, porém sem o anel abaixo do chapéu, que caracteriza a substância sagrada. Enfim, voltamos para casa um pouco desiludidos e sem cogumelos.
A tarde marquei um encontro com a grande amiga Kaki, para nos rever, conversar, enfim matar a saudade. A ideia de levar a última safra de cogumelos me veio espontânea, telefonei para algumas pessoas; Gil, Cinthia e Juan , e convidei-os para o encontro sem falar nada a respeito do cogu (inclusive a Kaki). Queria que fossem apenas as pessoas que tinham de ir, além de que ainda corríamos o risco de não fazer efeitos, já que o cultivo feito por uma amadora não fora tão eficiente anteriormente.
Apenas Juan topou e fomos os três a uma praia turística de Natal-RN, Ponta Negra. Escolhemos um espaço menos movimentado e ainda assim, havia um fluxo contínuo de pessoas. Eram pouco mais das três da tarde e fizemos um brinde com os copos cheios que eu havia levado: cogumelos com polpa de abacaxi.
Passados alguns minutos, talvez meia hora, comecei a sentir uma inquietação interna. Kaki teve fortes acessos de risos, e nós acompanhávamos, era engraçado. Eu sentia uma espécie de puxão no meu estômago, de forma que minha boca abria involuntariamente. Não chegava a ser ruim, era apenas estranho, como se fosse vomitar a qualquer instante. Ou ainda, mais provavelmente, uma possessão interna acontecendo.
Tive ligeiros acessos de gigantismo, muito riso compartilhado por Kaki e Juan, e a sensação de amor e paz, como se o universo abrisse os braços a nos acolher.
O céu estava fantástico, muitas cores e com uma vivacidade diferente. Anoiteceu e Juan foi correr pela praia, chamei Kaki para ficarmos perto do mar, meu amor por ela era ainda mais intenso. Olhei para o céu e uma estrela se movia rapidamente, considerada a altura em que se encontrava. A estrela ia e nós admiradas constatávamos que não tinha como ser um avião. Seu voo era rápido e constantemente diagonal, em um determinado ponto, antes do morro do careca, onde não haviam nuvens que pudessem cobrir o ser brilhante , ele foi diminuindo a intensidade da cor e sumiu. Simplesmente sumiu. Aquilo aconteceu bem na nossa cara e não sabíamos explicar como.
Agora ondas de paz percorriam meu corpo. Maravilhosa sensação de leveza. Caminhamos pela areia e falávamos brandamente, com muito amor. O cogumelo se despedia de Juan e Kaki, em mim porém , permanecia ativo e presente. Fumamos um cigarro, que não fez efeito. Porque a plenitude é tão real e completa, que nada mais se necessita.
Estávamos voltando para casa quando meu telefone tocou. Como um complemento da felicidade intensa, minha irmã do outro lado da linha, me noticiava a chegada de cogumelos na minha casa, via sedex. Fiquei extasiada com a surpresa. Meu amigo Rogério, o responsável pelo cultivo do site Natureza Divina, havia mandado para mim este presente. Foram dezoito gramas e minha alegria não tinha fim. Lembrei que de manhã não tínhamos ido , eu e meu pai, procurar a toa. O universo providenciou dessa forma linda o melhor presente que recebi e eternamente serei grata a ele.
Kaki ficou na sua parada de ônibus e eu e Juan seguimos para a nossa. Eu estava realmente plena, verdadeiramente em transe. Um estado espiritual quase impossível de descrever, infinitamente bom. Conseguia sentir Juan e ele parecia estar um pouco irritado comigo. Talvez pelo meu estado meio letárgico eu não dava muita atenção ao que dizia, eu parecia longe para ele, mas na verdade eu estava tão dentro do instante, mas tão dentro, que a mesma realidade me era mais nítida que tudo.
Não me chateei com a sua visível irritação. Sentia amor e nada abalaria aquela fortaleza. Fomos para casa silenciosos. De vez em quando eu ria lembrando de Rogério e do presente que me esperava em casa.
Assim que cheguei, tomei um banho e liguei para meu pai. Ele estava muito afim de tomar novamente e pensei que meu presente havia de ser compartilhado com outras pessoas , de forma a proporcionar a mesma alegria que Rogério havia me proporcionado. Falei a ele que nossa saída pela manhã em busca do sagradinho não havia sido em vão, porque eu daria a ele cinco gramas de presente. Ele logo se empolgou e quis marcar para o dia seguinte de tomar nós dois. Recusei a oferta, ainda estava degustando os ensinamentos da experiência atual.
Sugeri que Juan fosse com ele, já que amigos, se complementam. No dia seguinte eles foram para a prainha de Cotovelo-RN e tiveram a aparição de inúmeras iguanas, de variadas cores e uma linda história para contar.
Eu guardei as outras gramas já com algumas pessoas em vista para fazer o convite. Entre elas, uns que nunca tomaram e outras já conhecidas do cogu. Meu pai e Juan foram os primeiros contemplados com o presente. Posteriormente convidaria Berna, um grande amigo de aura iluminada, minha tia Suzy, uma pessoa especialíssima de coração purificado, e Juliano, outra grande figura na minha vida. Separei ainda algumas gramas para Cinthia, Gil, Tainah e Kaki, todas já conhecidas do cogu. Falarei no próximo relato, a experiência mais intensa e foi com Berna. Até aqui, fica o ensinamento principal do fungo: absolutamente tudo existe e está conectado, tudo é amor.