Estridente olhar de um rebento

Acordei naquela janela morna, no frio horizonte de uma cidade, de um mundo intensamente quente, se derretendo. Lembrei-me de toda a arte criada. Arte por si só, objeto sem ação, só acionado. A atualidade geopolítica já não previa claridade para a arte.

Voltei a todas as vezes que já havia visto Guernica, mas nesses momentos eu só estava me lembrando dos jornais sangrentos. A frieza mundana de falsa devoção piedosa sufocava tudo. Insurreição de raiva e ódio, desilusões e requerimento de justiça perduravam em toda a linha do tempo e levaram o homem apenas ao desespero, desespero de esperanças despedaçadas. A única luz que permanecia era a de balas e explosões magníficas. A esquizofrenia das revoluções internas tomou conta dos reflexos nos espelhos, porque nunca fomos capazes de olhar para nós mesmos. O individualismo sempre ganhou. A morte é trágica, atrapalha o trânsito, e a escola forma, forma dinheiro.

Mas ninguém se lembra que sem força maior, somos apenas pacotes de presunto. Perdemos nossa validade. Sim, perdemos tempo o tempo todo.

Deixe por fim que o agudo dos violinos domine o som e enquanto nos redimimos ao fim, vivamos em paz.

I.A.