Portais do Tempo
Destas palavras espero a penumbra e o recolhimento de pensamentos enobrecidos pelo silêncio do por do sol que morre nos braços da lua. Nos seus aconchegos desenho o perfil das insónias por dormir, na persistência cega da realidade em se impor no centro dos meus olhos e ficar ali a zelar para que termine a minha odisseia com a pureza excessiva dos papéis de branco imaculados. As emoções visitam-me na brevidade de um instante, reinadias, subitamente proféticas mas fogem-me na sua volubilidade de quem quer dizer adeus sem pressa, mas partir como uma torrente de lágrimas, fugindo na impudência de Luz, desfazendo-se num grito surdo.
Porque me deixaram num mundo aceso e se esqueceram de me apagar a mim? Pela madrugada, ceifo-me à noite e procuro o perfume do sonho na suavidade de alcançar os que me habitam e os adormeço docemente nos portais do tempo, que se fecham num eco dolente.
E as portas do mundo se abriram, acenando-me como faróis na costa. Na esperança do reencontro, lanço-me ao mar e, vivo...!
Diana Enriquez