O TEMPO DE UMA LEITURA

Bem devagar nos meus pensamentos, invento argumentos que me façam mudar. Por que plantar o mesmo fruto todo dia? Não há mais um novo a conhecer, nem mesmo um sentir que se contente? A gente escreve nos tempos soltos do dia a dia, imaginando um poema que arrebate um sentimento forte que não se sabe definir, tudo isso engessado numa busca constante de criar uma história que se assemelhe com um sonho que não se esqueceu. Dizem do poeta muitas alegorias, feitiços de amor e paixão demasiada, pouco se olha no ser solitário preenchendo um vazio que ninguém consegue explicar. Volta e meia recorro a noite como fonte interminável de inspiração, mas é no dia que vivo a deixa que transformo em verso ou música que me acalante. Somos todos um pouco poetas da necessidade, de carinho, de amor, de tolerância, todos impacientes com a dúvida do caminho seguinte. Novos argumentos para antigas interrogações, velhos truques para a total incompetência em fazer singrar o néctar da eternidade, mesmo que dure apenas o tempo de uma leitura, o tempo de se sonhar uma poesia.