O FIO QUE COSTURA

De repente, passando rente ao espelho, vi o vulto de uma senhora. Retornei. Olhei novamente, e não mais vi o vulto, mas sim a figura de formas arredondadas, de rosto vincado por sulcos, que lhe dão uma moldura única. 
Olhei com mais atenção, e uma menina sapeca, mostrava nos lábios um sorriso alegre, teimava em tomar o lugar, daquela senhora, que prontamente a afastava. Mandando-a voltar ao seu tempo.
Devagar, passei a mão pelos fios de meus cabelos, e percebi o quanto ele está pedindo uma visita ao cabeleireiro. E me perguntei: por que será que reluto tanto em ir? 
Nesse momento, uma jovem de olhar expressivo, e sonhador, se colocou à frente do espelho, nela havia um sorriso brejeiro. Sorria com os olhos, mais do que com os lábios. Ela queria ficar, mas a senhora, novamente, tomou à frente, e disse à jovem: o seu tempo já passou.
Num gesto automático, chacoalhei a cabeça, e voltei ao momento presente. 
Sorri de mim mesma, sorri para mim mesma. Sorri, com os lábios e com os olhos. E nesse hábito muito meu, de sorrir, com o olhar e com os lábios, percebi que elas se misturam, se abraçam, se integram.
Sem dúvida esse é o fio que costura as três, tornando-as inseparáveis.

(Imagem: Lenapena)

 
Lenapena
Enviado por Lenapena em 08/07/2013
Reeditado em 18/09/2016
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