DOIS
Corro, mão no volante,
carro esporte. Vida em morte,
carro mais possante!
Eu, cabelos negros e curtos
que recobrem todo meu crânio,
parece grama recém aparada.
Sobrancelhas encimando,
como dois acentos circunflexos,
vida em reflexos!
Olhos pardos, nariz amarrotado!
O conjunto parece assustado!
Ela, minha altura,
belo corpo, bela cintura!
Cabelos avermelhados,
ao vento revoltados.
Dois olhos imensos e verdes
levam a pensar em dois sinais!
É claro, de trânsito aberto,
piscava-os repetidamente!
Madrugada avançou,
e eu avancei o sinal.
Dois, eu e o carro...
Dois, eu e ela...
Dois, seus olhos...
Dois sexos...
Dois circunflexos...
Depois...
Ilha Solteira, 12/06/1984