A JANELA DA ALMA

Daqui da janela dá para ver a rua, a praça, a igreja, a chuva. Passam carros, pessoas, passam coisas. Passa um homem de bem vendendo pipoca. Passa devagar, sem pressa e senta no banco da praça. Pombos revoam em volta e ele reparte a pipoca com os pombos. O rosto dele é feito todo de sorrisos. Chegam crianças colorindo tudo à volta e os pombos saltam como crianças. Árvores balançam os braços, os galhos, as folhas abraçando o vento, desfolham. E a vida passa de manhã na praça.

À tarde, da janela, dá para ver velhinhos agarradinhos ao pôr do sol. Cachorrinhos correm e focinham o chão. Há gatinhos camuflados nos girassóis. Um sino dobra ao longe na torre da igreja, vi um anjo. Um homem de bem sentado no banco lê os jornais. Dá para ouvir as notícias tilintando dentro dos óculos.

À noite, dá para ver a noite sentada nos bancos da praça. Dá para ver o silêncio se alongando entre sombras. Dá para ver a lua. Um homem de bem dorme sobre a grama e sonha com camas e lençóis. O vento frio vem brincar sozinho, sem ninguém. Folhas amarelas rodopiam aqui e ali. Pensei que fossem mariposas.

Daqui da janela dá para ver que a vida é tão pequena! Que a vida é bela. Nenhum dia é igual ao outro, daqui dessa janela.