ENQUANTO VOCÊ DORMIA ( eu estava buscando estrelas no céu das ruas ) de: Osmarosman Aedo
As chaves que me devolveram o cárcere
De quando ainda era jovem e vivia com a esmola das ruas,
São as mesmas que me desamarraram da árvore
Em que amanhecia nua de sonhos em manhãs sem agasalho
Dominada por pesadelos que jamais encontraram em mim,
Abrigo para suas insanidades.
Os elos que formavam as correntes
De quando presa parecia um animal agressivo,
Não corromperam meus ídolos, quais, em mim
Ditavam minha personalidade me deixando íntegra
Diante de tanta sujeira que a vida não sabia limpar...
Descobri ruas, descortinei paraísos,
Perambulei por becos que mais pareciam
Cemitérios de coisas vivas e suei um suor de fome
Por tantas lutas vencidas e com muitas outras por vencer,
Que me tiravam o sono em dias de chuva
Mas me davam sonhos em dias de frio roxo, na minha boca cerzida.
Houve um tempo em que só descobria que era noite
Quando o amanhecer tocava em meus olhos
Tentando despertar meus sentidos que já nem me reconheciam mais.
Houve um tempo em que vestir-me era amostra de linhagem humana
E calçar-me era enfrentar as derrotas de minhas guerras tão sinistras
Quanto outros dias sem luz que me carregava na imaginação.
Houve um tempo em que não precisava de tempo algum
Pra medir minhas distâncias nem compor meus dias,
Pois tudo era passado com um formato magnífico
De futuros que pensei não mais conceber de onde eu estava.
Houve um tempo mórbido em contrapartida de um outro sórdido
Enquanto que um outro arrastava-se entre mim e a sobrevivência
Com tanta sutileza, que podia jurar que nada era ruim...
E aí foi quando de uma luz para minha luz (ainda sentia que tinha)
Vi as chaves, os cárceres, as correntes, os abrigos, as ruas
E até mesmo meus sonhos, destrilharem-se do rumo que estavam
Me amparando até aqui, de onde se conhecesse antes
Jamais teria saído: DO FETO.