Diante do Espelho.


E aí?
Então você se ama de menos? E eu que pensei que você se amava demais...
É isso...
As crianças sempre tem altas doses de narcisismo para exercitar o amor próprio que, em si, está sempre em alta. Já nos velhinhos e velhinhas já não é assim tão fácil o sentimentos narcisista. A força de eros tende para zero, enquanto Thânatos tende a infinito na busca do desfecho final.

Isto me lembra tantas pessoas aposentadas nos bancos das praças, a lê jornais, na maioria das vezes nem sentam ao lado de alguém. Conversar ou tentar desenvolver um assunto é o grande desafio, pois, se a auto estima está sempre em baixa, comunicar-se é sempre um desafio.

Arrumar-se então, nem se fala. Levantar da cama como quem vai a uma grande festa, sim pois cada dia deve ser um dia de festa. Tomar banho, barbear-se, usar uma roupa confortável e limpa, arrumar o cabelo, se perfumar, sentir a matéria a agradecer tanto zelo.

Se viver sozinho, começar a arrumar a casa tirar o pó, lavar sua roupa, fazer a própria comida e por a mesa para si mesmo como se fosse um rei ou rainha... Levantar como se nada no corpo doesse, como se as pernas fossem fortes e ágeis. E não ligar para o olhar das pessoas que sempre vão se esforçar em derrubar um pouco da auto estima que lhe restar.

Pensando bem ainda gosto de vaidade, acho que me amo demais, porque esta luta de cada dia ainda tenho vencido, ainda tenho alegria de viver, de amar, de me envolver, de lutar por ideais, de amar e me apaixonar.

E me apaixono por tudo, tudo me motiva, me comove, me desafia. Que bom acho que o Thanatos ainda está a me deixar em paz, na paz das crianças que à propósito são por natureza narcisistas, e a libido sempre a receber de Eros um grande incentivo, que as tornam quase sempre insaciáveis...

É bom ser assim, quando já ninguém acredita que se é... Mas se também não fosse diante de outros de nada serviria, se não rompesse a barreira da palavra, da partilha, do afeto a demonstrar desvelo pelas carícias positivas.

Este sim é o grande conflito, o desafio de enfrentar seus próprios limites quando ninguém mais acredita que você ainda é capaz...

Viver a velhice intensamente, sem descobrir, nem pensar sequer, que já envelheceu e nem se deu conta.
Isto sim é se amar demais e não de menos. É assim que eu quero ser quando envelhecer, você me ajuda?

In: 'Diante do Espelho' Prosa de Ibernise. Barcelos(PT), 02JUN2013.
Ibernise
Enviado por Ibernise em 02/07/2013
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