Ao Abrir o Coração
Ao Abrir o Coração
Ao abrir o coração para o mundo, não cabe só a nós decidir quem dele irá se apossar. Ele se torna um bem público, arrimo de multidões, desfechos de tribunais, partilhas de mutilados. Depois de apossar-se dele, surrupiam suas lembranças, fazem backup das memórias guardadas por dezenas de anos. Desinfetam o vírus do amor e da paixão. Esterilizam as lembranças do passado. Arrancam a placa da memória que nada mais é do que a alma contaminada pelas ranhuras da saudade. Pelas partidas, pelas perdas, das noites mal dormidas e das horas de espera acalantadas pela madruga. É o feedback das lembranças acumuladas dentro de uma redoma compartilhada somente com seu ego. È o despir de sua consciência que te acusa de ter-se acomodado, colhendo agora os frutos mal formados. Quando menos se espera a memória já não nos pertence, porque foi direcionada, descaracterizada, destorcida, codificada.
Quando desatamos os laços que prendem o coração ele se lança no espaço, e num rodopiar constante viaja por entre as estrelas e alcança a amplidão. Arranca suspiros de inocentes, maltrata muita gente, mas nunca pede perdão. Ele se torna indócil, rebelde e malcriado. É capaz de nos fazer chorar de alegria. Capaz de nos fazer sentir desespero. Suspirar de saudades e é craque em nos fazer sentir paixão. Cada pulsar do coração é um toque no teclado da vida. E ao teclar, vamos formando a nossa historia. Algumas com momentos maravilhosos em que nos deixamos levar pela fantasia. Nossas emoções criam asas e podemos nos transformar no que quisermos. Numa fada madrinha, numa guerreira samurai ou até numa princesa. Outras, nos levam ao lado oculto da vida. Nos faz viajar pelos túneis escuros e sombrios dos labirintos de nossa mente. Obrigando-nos a caminhar por estreitos corredores de nossa consciência, cheios de sombras mal projetadas. De fantasmas inexistentes que nos atormentam diuturnamente. Não importam quão sombrias ou alegres são as estórias, mas elas vão, nos formando, remodelando, aparando as arestas, estruturando nosso ser.
Mas quando bem encaminhado o coração nos surpreende! É capaz de furar barreiras, encurtar distâncias, derrubar mitos, atravessar fronteiras. Num mergulho ornamental, livra-se dos preconceitos, funde as religiões, acalenta os desamparados. Passamos a perceber as nuances das cores, o perfume das flores, e sobre tudo a entender o amor.
Ah! O amor e a dor! Sentimentos que levam o poeta ou escritor a se expor para o mundo. Seus pensamentos já não lhes pertencem. Passam a ser patrimônio da humanidade,
Ester M. Endo