PERCEBER

Saber perceber

Gentil habilidade de quem

Atenciosamente observa

Não o que está em evidência

Mas o que sutilmente se insinua

Como os dormentes

Aqueles esquecidos ao lado dos trilhos

Simetricamente desordenados

Rígidos, imaculados

Chamando-nos a partilhar o seu abandono

Debruçar no parapeito de uma janela rústica

E apreciar a folhagem clareada por focos de luz

Em uma noite de chuva fina

Embalada pelo ronco suave de longínquos trovões

Condoer-se com o semblante idoso

Desmarcado de esperança

Ou ser transpassado

Pelo olhar plácido de uma criança de colo

Sentir a gota de amor que derrama num pranto

Ou por detrás de um manto...

Pequenas grandes coisas

Que flutuam à parte

Profundas em sua própria expressão

Saber perceber