Tenho um sábado e um domingo.
Um final de semana inteiro para pensar em mim.
E o que eu sou?
Sou essa roupa para lavar e aquela roupa para passar, os livros tantos para ler, os papéis ajuntados, poemas rascunhados e desenhos rabiscados, a louça suja na pia, a geladeira vazia, essa preguiça vadia, o banheiro para limpar, essa vontade de só dormir, a casa por varrer, essa pirraça de não mais ser, essa desnecessária necessidade de ir ao supermercado, suprir, gastar, comprar, prover as prateleiras vitrines do que eu não vou usar, sou esta cama desarrumada, esta janela escancarada, essa indolência felina que aprendi muito bem, sou o que seria também, não fosse o que não sou nem podendo não ser o que sou se é que sou quando sou ser ser ser ser e estar estar estar tudo isto é só um mesmo cansar. Sou as coisas todas por fazer, o tão pouco lazer, o ter que, o ter de, o dever ser, o dever ter e o dever de ter de ser, sou tudo que esqueci e que esqueço de mim mesmo a cada momento que passa sem me perguntar o que é que eu queria...
Metade de meus passos são pela vontade. E a outra metade são por descuido. E cuido de não pensar, porque metade de mim não pensa e a outra metade não quer nem saber, metade de mim não age e a outra metade evita. Sou o que levita mas pesa, o que voa mas cai, o que entra mas sai, o que vai mas não volta, o que está mas já se foi, sou o antes e sou o depois e tudo que sou é durante o que não sou.
Sou tudo o que fui deixando pelo caminho, os rastros, os rostos, os restos, os marcos, as marcas, os ossos e a carne, o cheiro, os erros mais que os acertos, os apertos, os berros, os pesadelos, essa vontade de arrancar os cabelos, o medo, a fúria, a doença, a cura, a perdição e a procura, aquele pensamento de que faço segredo, o degredo, sou aquele que foge mas não tem para onde ir. Sou o medo de cair, de não mais sentir, de ter de fingir, sou a capacidade de pressentir e a decisão de prescindir, sou este desprezo por existir, este pouco caso que sei fazer das coisas que são e das coisas que não são...
Sou estas malas feitas, sempre prontas para partir, sou essa pouca vontade de voltar, essas emoções desfeitas, contrafeitas por tudo o que nenhum sentimento pode dizer. Sou o ímpeto de ir mais além quando tudo já é além, de me perder das coisas comuns justamente por elas serem comuns, essa aversão que me leva a descrer das coisas extraordinárias só por elas serem extraordinárias, este abandono das coisas em mim enquanto sou a própria coisa abandonada.
Sou isto que se deixa estar e que ora se deixa levar. De qualquer coisa que possa ter algum significado sou a coisa mais insignificante. E sei que sou menos importante do que a importância que não se deve dar à importância que não se tem.
Sei que sou tudo aquilo que nem sei de mim mesmo, nunca perguntei, aquilo que não posso conceber, nunca me dei ao trabalho, aquilo tudo que ninguém pode perceber, não é aconselhável ter este tempo a disperdiçar. Eu sou tudo aquilo que acabei de perder. Sou tudo aquilo sobre o que não consigo escrever, por não ver, por não saber, por não crer, por não poder, um momento no tempo e o tempo na eternidade, sou a realidade que todo sonho tem e sou o sonho que toda a realidade esquece, sou o que é eterno mas perece, o que vive mas padece, sou o que morre e não parece.
Um final de semana inteiro para pensar em mim.
E o que eu sou?
Sou essa roupa para lavar e aquela roupa para passar, os livros tantos para ler, os papéis ajuntados, poemas rascunhados e desenhos rabiscados, a louça suja na pia, a geladeira vazia, essa preguiça vadia, o banheiro para limpar, essa vontade de só dormir, a casa por varrer, essa pirraça de não mais ser, essa desnecessária necessidade de ir ao supermercado, suprir, gastar, comprar, prover as prateleiras vitrines do que eu não vou usar, sou esta cama desarrumada, esta janela escancarada, essa indolência felina que aprendi muito bem, sou o que seria também, não fosse o que não sou nem podendo não ser o que sou se é que sou quando sou ser ser ser ser e estar estar estar tudo isto é só um mesmo cansar. Sou as coisas todas por fazer, o tão pouco lazer, o ter que, o ter de, o dever ser, o dever ter e o dever de ter de ser, sou tudo que esqueci e que esqueço de mim mesmo a cada momento que passa sem me perguntar o que é que eu queria...
Metade de meus passos são pela vontade. E a outra metade são por descuido. E cuido de não pensar, porque metade de mim não pensa e a outra metade não quer nem saber, metade de mim não age e a outra metade evita. Sou o que levita mas pesa, o que voa mas cai, o que entra mas sai, o que vai mas não volta, o que está mas já se foi, sou o antes e sou o depois e tudo que sou é durante o que não sou.
Sou tudo o que fui deixando pelo caminho, os rastros, os rostos, os restos, os marcos, as marcas, os ossos e a carne, o cheiro, os erros mais que os acertos, os apertos, os berros, os pesadelos, essa vontade de arrancar os cabelos, o medo, a fúria, a doença, a cura, a perdição e a procura, aquele pensamento de que faço segredo, o degredo, sou aquele que foge mas não tem para onde ir. Sou o medo de cair, de não mais sentir, de ter de fingir, sou a capacidade de pressentir e a decisão de prescindir, sou este desprezo por existir, este pouco caso que sei fazer das coisas que são e das coisas que não são...
Sou estas malas feitas, sempre prontas para partir, sou essa pouca vontade de voltar, essas emoções desfeitas, contrafeitas por tudo o que nenhum sentimento pode dizer. Sou o ímpeto de ir mais além quando tudo já é além, de me perder das coisas comuns justamente por elas serem comuns, essa aversão que me leva a descrer das coisas extraordinárias só por elas serem extraordinárias, este abandono das coisas em mim enquanto sou a própria coisa abandonada.
Sou isto que se deixa estar e que ora se deixa levar. De qualquer coisa que possa ter algum significado sou a coisa mais insignificante. E sei que sou menos importante do que a importância que não se deve dar à importância que não se tem.
Sei que sou tudo aquilo que nem sei de mim mesmo, nunca perguntei, aquilo que não posso conceber, nunca me dei ao trabalho, aquilo tudo que ninguém pode perceber, não é aconselhável ter este tempo a disperdiçar. Eu sou tudo aquilo que acabei de perder. Sou tudo aquilo sobre o que não consigo escrever, por não ver, por não saber, por não crer, por não poder, um momento no tempo e o tempo na eternidade, sou a realidade que todo sonho tem e sou o sonho que toda a realidade esquece, sou o que é eterno mas perece, o que vive mas padece, sou o que morre e não parece.