VELA AO VENTO
Era apenas uma tarde de domingo
O silêncio ensurdecia
Mas a ausência nao era de pessoas
Embora as ruas estivessem desertas
O mar revolto traçava caminhos
Na areia imensidão de passos
Rumo a um horizonte tangível
mas inalcansável para mim
Como ilha rodeavam-me lembranças
Da vida que sonhei em sonhos
Sem porto, sem âncora
E como dói a solidão
Como uma vela ao vento
Assusta-me o tremor das ondas
Quando a chuva chega mansinho
Queria amanhecer aquecida
O mar é uma selva bruta
As feras rugem e atacam
Ainda sou uma criança
Não sei onde me agarrar
Já não há gritos, apenas sussurros
Rasgaram minhas vestes
Saquearam minha casa
E meu coração insiste em bater
O ato continua,
Abrem-se as cortinas
Confesso, agrada-me o júbilo
Da platéia que aplaude de pé
Como nau solitária
Pressinto a calmaria
Tento vislumbrar ao longe
Uma ilha, resquício de Esperança...