Gaveta lacrada
Há tanto tempo não abro aquela gaveta
Nem sei se a fotografia ficou amarela
Minhas buscas não andam xereta
Talvez tenha esquecido o nome dela
Não sei do que, com aquele guardanapo,
deveria me lembrar
Não dá para ler nele um soneto
Pode ser a receita de um galeto
Como meu tempo foi ingrato com minha memória
Embaçou a genealogia da minha história
E se eu vier a ser um herói?
Daqueles que o dizer da lápide a todos corrói
Historiadores irão buscar, onde eu tenho guardado
Seqüelas do meu passado?
“Perdoem-me a bagunça desta minha gaveta,
Ela é do tempo da retreta, e a faxineira não veio
Sei que nunca meu alfarrábio
Vai contar a história de um sábio