O pior tipo de morte
Não acredito em Deus. Mas sei que existem muitas coisas na vida que nos mantém vivos, vários nós que nos seguram, nos prendem, nos amarram. Muitas pessoas se equivocam ao pensar que a morte é o fim da vida. O que nos mata é a falta de fé. Eu sei, por que estou morrendo aos poucos, não por que tenho alguma doença terminal ou por que chegou a minha hora. Estou morrendo por dentro, devagar, como uma carne exposta aos vermes, que remoem sem piedade até o último pedaço. Esse é o pior tipo de morte.
É quando as esperanças se vão e não resta nada, exceto a constante depressão que toma conta do corpo; e da mente. É fatal. Então, morremos. Quando o choro vem sem avisar, sem sentido, sem cessar. Quando as horas passam sem motivo, os dias se vão rápido e inutilmente como a areia que cai de uma ampulheta. E não importa o quanto te chacoalhem você não consegue respirar por si só. Falta de fé. É quando você se afunda cada vez mais, debatendo-se incansavelmente para subir a superfície, mas algo prende os teus pés ao fundo. Então, morremos mais um pouquinho. Eu estou morrendo. Por não tê-la por perto, não sentir seu calor passeando por meu pescoço. Não escutá-la sussurrando o quanto me amava e para quê? Para morrer depois, ela decidiu morrer. Eu fiquei, morrendo também. O pior tipo de morte é aquele que ainda te mantém com os olhos abertos, mas com o coração fechado.
Página 166, Do jeito que a lua sorri. - Segundo romance de minha autoria.