O CANTO LIBERTO

Quem está no casulo deste cantar é aquele que abdica das coisas rasas e comuns para poder conversar com o alter ego sobre a imantação da criatura humana, suas atribulações e afetos. Afinal, são quarenta anos de Poesia. Dez livros editados, desde a década de 70. E como és a musa que, de somenos, me invade os olhos, talvez possas imaginar mariposas e borboletas pousando suas larvas, feito o canto de um canário, ainda que pássaro triste, em seu solilóquio musical. E tudo dentro de mim... A linguagem poética é dominadora. Faço força pra que não me ocupe por inteiro, e tenho medo, por vezes, que seja alçado do chão para o etéreo, como o pássaro que gorjeia aos olhos e ouvidos. Mais do que cotidianamente preso, a saltitar dentro do espaço diminuto do viveiro, e, sim, curtindo a liberdade da brisa – o canto liberto que transpassa a memória e o riso descolado do momento em que se aparenta a felicidade borrifada pelo mistério...

– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.

http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/4348860